Capítulo 07 — Tanaka, Faz Sua Jogada
O presidente da guilda Black Dog, Suda, se aproximava de mim com uma expressão demoníaca.
Mesmo tendo me preparado para esse momento, só de ouvir a voz dele meu estômago começava a doer.
Parece que meu coração estava mais desgastado do que eu imaginava.
Anos e anos ouvindo as ordens desse homem me deixaram com o instinto submisso de um típico assalariado explorado.
Mas, graças à conversa com Adachi há pouco, eu conseguia me enxergar de fora.
Se não tivesse falado com ele, talvez já tivesse me rendido agora.
“Por sua culpa, por causa daquela transmissão, a reputação da empresa foi pro inferno! Como vai assumir a responsabilidade, hein!?”
Suda gritava, o rosto vermelho de raiva.
Esse tipo de cena era rotina na guilda.
Ele não tinha talento nenhum pra gestão, mas era um mestre em controlar as pessoas pelo medo.
O único talento real que ele tinha era o de administrar uma empresa tóxica.
Por causa disso, eu acabei física e mentalmente destruído.
Sim, eu devo muito a ele, mas se continuar assim, vou acabar acabado.
Agora eu quero viver por mim mesmo.
“Os outros funcionários logo vão chegar. Quando estiverem aqui, vou te humilhar até não sobrar nada. Esteja pronto.”
Suda sorriu com aquele jeito repugnante.
Ele claramente se divertia com isso.
Sempre dizia: “É pro seu bem”, mas era mentira.
Esse cara é só um sádico que gosta de maltratar quem não pode revidar.
Ainda bem que eu finalmente acordei.
Mesmo assim… só de estar diante dele, meu estômago volta a doer, minhas pernas tremem.
Não sei se vou conseguir responder à altura.
Enquanto pensava no que fazer, senti o celular vibrar.
“Hm?”
Discretamente, pra não chamar atenção de Suda, olhei a tela.
Era uma mensagem de Adachi.
“Aposto que você ainda tá com medo do Suda, né?
Quando isso acontecer, pensa assim:
‘Se eu quisesse, matava esse cara em um segundo.’
Vai ver que o medo passa rapidinho.”
… Faz sentido.
Suda tinha sido explorador de masmorras anos atrás, então era mais forte que um civil comum,
mas já fazia muito tempo que ele não entrava numa dungeon.
Eu, por outro lado, ainda estava em forma.
Olhando bem, seus movimentos estavam cheios de brechas.
Se eu quisesse, podia me aproximar em 0,2 segundos e acertar o coração.
Morreria em menos de um segundo.
Pensando assim… não parece tão assustador.
O Tyrant Dragon era bem mais aterrorizante.
Antes, o medo vinha da ideia de ser demitido.
Mas agora? Se me mandarem embora, paciência.
Não tem mais nada aqui que me assuste.
Certo. Eu consigo.
Com a decisão tomada, toquei discretamente o celular, iniciando uma operação.
Depois disso, não teria mais volta.
“Beleza… Já temos gente o suficiente. Tanaka… vamos começar.”
Uns dez funcionários se reuniram, e Suda, com um sorriso diabólico, se aproximou.
Sim, ele estava claramente se divertindo com aquilo.
“Fala aí, Tanaka. Conta pra todo mundo o que você aprontou, pra ver se eles entendem!”
A voz dele ecoou tão alto que fez o escritório tremer.
Era o velho truque dele.
Primeiro fazia o funcionário “confessar”, pra plantar o sentimento de culpa.
Depois o interrompia no meio da explicação, tomava a palavra e o esmagava com uma enxurrada de acusações.
Assim a vítima se encolhia e perdia completamente a voz.
Técnica clássica de manipulação.
Os outros funcionários, lembrando das vezes em que sofreram o mesmo, estavam pálidos.
Antes, eu teria a mesma expressão.
“Sim, eu errei ao configurar a transmissão. O conteúdo interno acabou vazando. Foi minha falha.”
Suda sorriu aquele sorriso nojento e presunçoso.
Já devia estar montando o teatrinho mental pra me destruir.
Mas desta vez seria diferente.
“Mas foi só isso. O motivo da má reputação da Black Dog Guild na internet é outro e a culpa é toda sua, Suda. Eu não tenho nada a ver com isso.”
“... O quê?”
Ele piscou, confuso.
E quando percebeu que eu o havia contrariado, o rosto ficou vermelho de raiva.
“‘Eu não tenho nada a ver com isso’!?
Quem você pensa que é, seu lixo!?”
Suda chutou uma lixeira, espalhando o conteúdo pelo chão.
Os funcionários se encolheram, assustados.
“Você sabe muito bem que essa guilda é uma empresa podre, não sabe?
Tudo o que vazou foi só a verdade.
Se fossem mentiras, aí sim a culpa seria minha.
Mas o que vazou são as coisas que você realmente faz.”
“Podre!? A gente paga o salário mínimo certinho, dá uma folga por mês!
E quem você acha que dá emprego pra fracassados como vocês, que ninguém mais aceitaria, hein!?
Sou eu! Eu é que tô fazendo um favor pra vocês!”
Uma chuva de frases típicas de chefe de empresa exploradora.
Por dentro, eu quase ri.
Quantas pessoas ouviriam isso e pensariam:
“Nossa, essa guilda parece um ótimo lugar pra trabalhar!”?
Eu adoraria ver o resultado de uma pesquisa sobre isso.
“Você ainda por cima rouba parte dos salários, né?
E as folgas que dá nem chegam ao mínimo exigido pela Lei dos Exploradores.
Achou que ninguém ia perceber?”
“Guh... I-isso não importa! Eu tenho contrato com o governo!
Ou seja, eu sou o governo!”
Ah, aí está.
Não tem mais salvação.
O nível de insanidade dele passou dos limites.
Os outros funcionários também estavam olhando assustados.
Aposto que todos pediriam demissão em breve.
...Bem, já tirei tudo o que precisava dele.
Hora de encerrar o show.
“É uma pena, Suda. Trabalhamos juntos por tanto tempo…”
“Hã? Do que você tá—”
Peguei o celular e mostrei a tela.
Comentários rolavam sem parar.
“lol as frases clássicas de empresa lixo não param”
“A escuridão do Japão, parte 47”
“Isso já é caso de polícia”
“Tá bombando demais kkkkk”
“Fazia tempo que não via um festival tão divertido”
“Oi, presidente, tá assistindo?”
“E aí, qual o sentimento agora? Hã? Hã?”
“Falência confirmada”
“Que jogada! Agora ele não tem como negar nada”
“RTA da demissão iniciado”
“Dá até pra sentir a união do chat”
“Adeus, vida de assalariado explorado (mas os olheiras dele eram fofas)”
“Acho que vou pedir demissão também…”
“Q-que… o que é isso!?”
O rosto de Suda empalideceu.
Finalmente entendeu em que enrascada estava.
“Drones modernos são incríveis, né, Suda?
Têm até modo furtivo.
Graças a isso, consegui transmitir tudo sem que ninguém percebesse.”
Toquei o celular e, lá fora, o drone desativou o modo camuflado, revelando-se pela janela.
Sim eu estava transmitindo ao vivo no D-Tube toda a conversa desde o começo.
Depois do “acidente de transmissão”, o canal da Black Dog Guild tinha ganhado milhares de inscritos.
Era só questão de tempo até o público se reunir.
“Impossível… i-isso é impossível…!”
“Desista, Suda.
Chegou a hora de pagar pelos seus pecados.”
Disse isso, encarando-o firme, enquanto ele tremia de raiva e de medo.
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