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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Red Overlord - Capítulo 04

Capítulo 04 — Força... concentre...



Desde que fui viver com o Velho Rato, minha rotina mudou por completo.

Não precisei mais mendigar, revirar lixo nem trabalhar feito escravo nas fazendas. Em troca, passei a receber lições do velho.

Depois do café da manhã, eu pegava um galho e desenhava letras no chão. Lia aquilo diversas vezes, repetia, esforçava-me para memorizar.

— Heh, afinal você não é tão burro. — comentou o velho.

— Ei, velhote... “afinal”? O que é isso, afinal? — resmunguei, incomodado.

O velho riscou três caracteres com a bengala.

— Consegue ler isto?

— Is...so é...

Le... Red...

— Este é o teu nome — disse ele.

Então era isso, “Red”.

Algo no meu peito bateu mais forte. Sempre abominei meu nome, mas, por algum motivo, agora não me incomodava tanto. Um dia eu mostraria esse nome para todo mundo neste reino.

Depois do estudo das letras, vinha o treino de artes marciais. Enfaixei as mãos e comecei a golpear um tronco.

— Relaxa os ombros. Use os pés e o quadril para golpear com o punho.

— Beleza.

Seguindo as instruções do velho, balancei o punho e o tronco chegou a tremer. Uma faísca de confiança ascendeu em mim.

— Realmente, tens um corpo potente — o velho aprovou com um aceno.

— Mas ainda falta muito. Esse tronco aí deveria partir com um único golpe.

— Hein?

Olhei de novo para a árvore. Era grossa, dura mesmo com ferramentas não parecia algo que um humano partisse de uma só pancada.

— Tá de brincadeira, velho. Isso é impossível para um humano.

— Heh — o velho zombou.

— Não diga que algo é impossível só porque você não consegue.

— Então mostra, seu velho. Não me diga uma coisa dessas se nem você consegue fazer.

— Muito bem. Vou te mostrar um pouco.

O velho enfaixou a mão direita e posicionou-se diante do tronco. Eu nem quis acreditar no que via.

— Presta atenção, Red — disse ele, tirando a parte de cima da roupa.

— O quê...?

Minha voz escapou, surpreso. O corpo pequeno do velho era todo músculo duro como aço, marcado por cicatrizes. Que vida teria sido aquela?

— A força é... concentração — falou ele, devagar, elevando o punho.

— Não disperse. Concentre toda a energia do corpo num único ponto. Então...

O punho do velho desceu com uma velocidade quase invisível e acertou o tronco. Um estrondo ecoou não parecia o som de um golpe humano.

— ...Um homem pode destruir não só uma árvore, mas um reino.

O tronco caiu facilmente; a poeira subiu. Mesmo vendo, aquilo parecia mentira.

— O teu caminho é o mesmo. Concentra-te até a loucura, avança sem hesitar. Quem te impedir seja nobre ou rei não merecerá clemência. Assim chegarás ao destino.

— Velho, quem é você, afinal?

— Heh, quer saber? — ele sorriu enquanto vestia a camisa. — Se ficar mais forte que eu, eu te conto.

— ...Não esquece essa promessa — murmurei, cerrando o punho. Jurei a mim mesmo que um dia seria mais forte que ele, mais forte que qualquer um, e destruiria este reino. E então, de quebra, arrancaria o passado dele.


Depois disso, obedeci ao velho: concentrei-me até a loucura e forjei meu corpo.

Aprendi a ler, devorei teorias de luta nos livros, fortalecei o corpo, pratiquei técnicas e repeti tudo até a exaustão. No verão escaldante e no inverno cortante, dia e noite, empurrei meu corpo ao limite. Perdi a noção do tempo, não sobrava espaço para distrações. Foram dias que só poderiam ser chamados de loucura.

Quando adquiri uma técnica mínima, passei a encarar o velho.

— Vem com tudo, Red — disse ele.

— Claro — respondi, atacando com a intenção de matar. Agora que conhecia a verdadeira forma do velho, não havia espaço para fazer as coisas pela metade.

— Petulante! — ele respondeu.

— Ugh...!

O velho me lançou para longe sem piedade. Apesar de pequeno e velho, seus movimentos eram tão rápidos que eu mal os acompanhava com os olhos; seus golpes eram fortes o suficiente para me deixar tonto numa só pancada.

— Levanta.

— ...Certo.

Sofrendo, ergui-me e ataquei de novo e levei mais uma surra.

— Heh, corpo grande e ainda assim patético, Red — caçoou ele.

— Seu velho porco...

Deitei no chão e olhei o céu.

— Nosso próximo combate será em uma semana. Treina como se fosse morrer até lá — disse ele friamente e partiu.

Eu cerrei o punho e me levantei outra vez.

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