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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

O quê? Vocês vão me demitir por ser a única operador dos sistemas da empresa? - Capítulo 05

Capítulo 05 :: Já Cansei de Multitarefa 

Shigeru Odawara acordou.

Era uma manhã de domingo.
Normalmente, ele não teria vontade de fazer nada voltaria a dormir e, quando percebesse, já seria hora do almoço.

Mas naquele dia—

“Ah! Bom dia, papai!”

“Oh, Ayumu, acordou cedo.”

Ela ainda o cumprimentava, pelo menos.

“Que milagre!”

“Haha, o papai também acorda cedo de vez em quando.”

“Por quêêê?” perguntou a filha, curiosa.

Ela estava sorrindo. Parecia que fazia muito tempo desde que ele vira aquele sorriso.

“Ayumu, não está quase na hora daquele… daquele seu programa começar?”

“Tá sim! Vai começar! Como você sabe!?”

“Hahaha, é que... encontrei aquela pessoa outro dia.”

“Quem?”

O nome não vinha à cabeça.

Desviando o olhar, Shigeru viu por acaso uma pequena figura de ação sobre a estante.

“Aquela menina.”

“Ah!? A Shian-chan!? Mentiraaa!”

“É verdade.”

“Mentiroso! Não acredito!”

A filha ria, empolgada.

Ele, que andava achando que ela o detestava, sentiu um alívio súbito.

“Vamos assistir juntos!”

“...Ah, sim. Claro.”

“De verdade!? Oba!”

E assim, ele acabou assistindo o anime ao lado da filha.

Sinceramente, achou bem sem graça.

Mas a menina ria animada, dizendo “que legal!” a todo momento.

Ele tentava retribuir o sorriso, mas conforme o episódio avançava, começou a sentir-se exausto.

— Isso fica gravado na alma!

De repente, lembrou-se de uma frase exagerada que ouvira recentemente.
E, junto dela, pensou: Como eu era quando criança?

Foi nesse instante que ouviu uma voz:

“Ah, que raro.”

“Ah! Bom dia, mamãe!”

“Bom dia. E por que o papai está aí também?”

“Sabe, mamãe! O papai disse que encontrou a Shian-chan!”

“É mesmo? Que incrível.”

A mulher lançou-lhe um sorriso frio — O que você está dizendo na frente da criança?

“Ah, foi por trabalho. Teve um evento.”

“Ah, sim, trabalho. Claro.”

Ela respondeu em voz baixa, para não deixar a filha ouvir.

“Quer café da manhã?”

“Querooo!”

“Eu também.”

Sem mudar de expressão, ela assentiu e foi para a cozinha.

Ele tentou segui-la, mas ouviu um “Você só atrapalha, fica aí” e parou.

As pessoas não mudam de repente.
Se é difícil mudar a si mesmo, como dois poderiam mudar juntos?

“Papai, o que foi?”

“Hm? Ah, nada, só pensando.”

Sentiu um calor suave no peito.
Há muito tempo, sua vida girava em torno de contatos profissionais, reuniões e metas.
Aquele ar descontraído quase como o de um clube escolar era algo que ele não experimentava havia anos.

Aqueles dois jovens engenheiros eram, talvez, desajustados na sociedade.
Mas, para Shigeru Odawara, aquele ambiente havia sido… confortante.

Por quê?
Não sabia.
Mas, por mais que tentasse esquecer, não conseguia.
Cada vez que via um personagem se mexendo e falando na TV, lembrava-se deles.

“Pronto, aqui está.”

“Obrigadaaa!”

Hora do café da manhã.
A filha sorridente, a esposa serena.

“Tome.”

“...Ah, obrigada.”

Pegou os hashis como sempre.

— Sabe, eu gostaria de ouvir um pouco mais de gratidão.

O coração dele deu um pulo.

Shigeru levantou o olhar para a esposa.

— Achar que é obrigação porque é trabalho… isso é errado.

“...Ei.”

“O quê?”

Chamou por instinto.
Mas as palavras seguintes… não vieram.

“...Nada não.”

“...Entendi.”

Ele sabia o que devia dizer.
Obrigado.
Cinco simples sílabas.

Comparado aos algoritmos e códigos que quebrava a cabeça para resolver, aquilo era infinitamente mais simples.

Mais simples até do que aquele diagrama que finalmente conseguira decifrar.

E, mesmo assim…
Percebeu que não conseguia dizê-lo.

“Obrigado.”
Tão curto.
Tão impossível.

“O que foi, papai?”

“Nada, nada. Ah, aquele anime foi divertido, né?”

Uma desculpa fraca.

“Foi! Super divertido!”

A filha era fácil de agradar.

“E a Yuu?”

“Ainda dormindo.”

“É mesmo, tem só três aninhos.”

“Pois é.”

Shigeru se retraiu.
Quis continuar a conversa, levado pela energia da filha… mas o olhar da esposa, claramente dizendo não fale comigo, o fez calar.

Mesmo assim, ele tentou de novo algumas vezes.
E falhou todas.

Ficou chocado.

Não consigo dizer “obrigado”.
Uma palavra tão simples… e não sai.

Numa noite qualquer, a esposa disse:

“Ei, ultimamente parece que você quer me dizer algo, né?”

As crianças já dormiam.

“...Acha mesmo?”

“Acho sim. Você vive dizendo ‘nada não, nada não’...”

O ar ficou denso, quase como numa conversa de separação.

“...”

Mas ele não disse nada.

A esposa aguentou o silêncio por alguns minutos e então:

“Tudo bem. Vou dormir.”

“Espera.”

Falou sem pensar.

Se não dissesse agora, algo entre eles se romperia de vez.

“O… trabalho tem sido difícil.”

“Ah, essa é nova. Você sempre diz isso. E daí?”

Um começo desajeitado, um rodeio enorme.

“Vivem me pedindo coisas. É tanta tarefa, tanta pressão...”

Mas, ao finalmente começar, as palavras fluíram.

“Lembra do que a Ayumu disse? Que eu encontrei uma personagem de anime?”

“Quando foi isso?”

“Ela comentou outro dia. Pois é, a mulher que eu conheci me disse algo… que parecia ser a mãe da empresa. Que queria ouvir palavras de gratidão. Que é errado achar que, só porque é trabalho, não precisa agradecer.”

Shigeru olhou nos olhos da esposa.

“Não sei por que, mas… eu não consigo dizer. E isso me deixa com raiva de mim mesmo.”

O rosto dela parecia um pouco mais velha do que em sua lembrança.
Era assim mesmo?
Antes, ela sorria tanto...

“...Hehe.”

Ele ficou confuso.

“O que foi?”

“Você falando sério assim… é engraçado.”

O corpo dele ferveu.
Vergonha, raiva, confusão tudo misturado.
Mas, acima de tudo… ele percebeu.

Fazia muito tempo que não via a esposa sorrir.

“Vou dormir. Ai, que engraçado.”

Ela parecia de bom humor enquanto saía do cômodo.

“Espera.”

Ele a chamou novamente.

“Obrig… obrigado por tudo. Sempre.”

“Ah, para com isso. Haha, você é hilário.”

“Ei, eu tô falando sério!”

“Tá, tá. Eu também — obrigada por trabalhar tanto todos os dias.”

Depois disso…
Nada mudou de forma milagrosa.

Ele ainda travava para dizer “obrigado”.
Mas, quando ficava quieto demais, via a esposa sorrir sozinha, lembrando da cena.
E a filha perguntava: “Mamãe, o que foi?”

E ele, envergonhado, mudava de assunto.

A casa passou a ter mais sorrisos.

Tudo começou por causa de um curso de programação.
Por causa de um engenheiro excêntrico, vestido de forma estranha.

Era tudo tão absurdo.

E, mesmo assim—

Ah… como podia algo tão simples ter sido tão difícil?


Dias depois, o “Curso do Verdadeiro Programador” ganhou popularidade com novos alunos e uma enxurrada de comentários.

Críticas ferozes ao cosplay.
E elogios à didática.

E, no final de muitas resenhas, lia-se sempre a mesma frase:

“Um curso que aquece o coração.”




“Qual é o próximo item da agenda?”

“Sim. É o relatório de feedback do departamento de RH.”

“Ah, ótimo. Um relatório importante.”

Um mês havia se passado desde o início da grande reforma.

Naquele dia, o novo presidente veria, pela primeira vez, a opinião de todos os funcionários.

Mas ele ainda não percebia.

Que aquele seria… o ponto de virada decisivo.

“Onde será a reunião?”

“Na sala F, senhor.”

“Entendido. Vamos lá, então.”


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