Capítulo 03 – Não aguento mais multitarefas – 2
O nome dele é Shigeru Odawara.
Mora em um apartamento em Tóquio, tem 32 anos e divide a casa com a esposa e os dois filhos.
Durante o dia, trabalha como funcionário efetivo em diversas funções.
Se formos ver pelo lado ruim, é o tipo de pessoa que acaba sobrecarregada em uma empresa com falta de pessoal, recebendo várias tarefas ao mesmo tempo.
A agenda está sempre cheia de reuniões e compromissos recorrentes. E há sempre aquelas tarefas pequenas e repetitivas que não param de chegar. Obviamente, os colegas também estão ocupados, e, se ele olhar ao redor durante o almoço, verá todos comendo enquanto trabalham. Qualquer tentativa de iniciar uma conversa casual retorna apenas respostas automáticas e sorrisos forçados.
Mal termina um prazo, outro já está batendo à porta. Novas tarefas surgem antes mesmo que ele consiga organizar as anteriores isso é rotina.
O resultado? Horas extras de sobra.
E ultimamente, a empresa tem ficado cada vez mais exigente, então no fim do mês o ajuste de horas é uma dor de cabeça.
Em casa, ele mal consegue dormir de tão cansado. Não sobra tempo para conversar com os filhos, e ele sente que, recentemente, está começando a ser rejeitado por eles.
Nos finais de semana, quando ele se arrasta pelo sofá da sala, a esposa, que antes era tão doce, passa a olhá-lo com aquela expressão irritada e impaciente, como se estivesse diante de um inseto. Sem alternativa, vai para o quarto, só para ouvir a frase fatal:
— Você realmente não faz nada, não é?
Quando ele se obriga a ajudar com as tarefas domésticas, recebe um “Sai daqui, está atrapalhando” — xeque-mate.
— “Espere… o que eu estou fazendo mesmo?”
No trabalho, essas reflexões têm surgido com mais frequência.
Shigeru Odawara é um típico assalariado comum, e é exatamente assim que ele se define.
Mas ele tem um hobby.
No trabalho, sobrecarregado; em casa, ignorado.
O único lugar em que encontra paz é no metrô a caminho do trabalho.
Segurando a barra de apoio, apenas olhando para o vazio, com a mente completamente vazia, esses poucos minutos são incrivelmente reconfortantes.
A felicidade dura pouco. Quando desce do trem e caminha até o trabalho, a sensação de melancolia retorna com força.
Shigeru Odawara, na tentativa de escapar da realidade, passa o olhar ao redor. Foi então que percebeu algo diferente: um cartaz.
“...Escola de Programadores de Verdade?”
Que brega.
Mesmo assim, Shigeru leu atentamente o conteúdo.
A razão era simples: ele queria aprender programação.
Nos últimos anos, o termo internalização tem aparecido com frequência na empresa.
O objetivo era substituir sistemas terceirizados por desenvolvimento interno.
Isso significa que, mesmo sem experiência, Shigeru começou a ser envolvido com programação. E, na prática, ele já estava tendo mais oportunidades de “colocar a mão na massa”. Por isso, precisava encontrar tempo para aprender de verdade.
Mas, sejamos honestos, programas de ensino de programação soam sempre suspeitos.
Primeiro, não é fácil conseguir bons programadores. Eles são poucos e, ainda por cima, ocupados. Como instrutor, você provavelmente acabaria com estudantes temporários ou freelancers sem projetos. E, do ponto de vista de negócios, faz mais sentido ensinar conhecimentos superficiais para muitas pessoas do que conhecimento profundo para poucos. Portanto, tudo o que se aprende nessas escolas normalmente você consegue encontrar sozinho na internet.
E foi por isso que uma frase chamou sua atenção:
“Iniciantes não são aceitos. Apenas pessoas com problemas reais, por favor.”
— Que estranho.
Como dito, para lucrar, um curso precisa de grande número de alunos. Cortar a maioria dos possíveis clientes? Isso é raro.
—…Vinte mil ienes.
Um valor que ele considerou aceitável. Claro, não é barato, mas também não é absurdo.
— “Ah, tem aula experimental gratuita também.”
Os japoneses têm fraqueza por coisas gratuitas.
Seja um aplicativo baixado de graça, no qual você gastou uma fortuna em gacha, ou uma amostra grátis qualquer, a palavra grátis sempre atrai.
“Primeira vez, uma única experiência gratuita.”
Shigeru ficou curioso com o raro “iniciantes não são aceitos” e decidiu testar com a promessa de aula gratuita.
Então, numa sexta-feira à tarde, ele tirou meio dia de folga justo quando queria usar suas férias —e foi até lá.
— “Com licença, é aqui a Escola de Programadores de Verdade?”
— “Sim, um momento, por favor.”
Uma voz feminina respondeu.
Logo se ouviram passos apressados, e quem apareceu foi…
— “Ahm… você deve ser o Sr. Odawara, certo?”
— “…Ah, sim, sou eu.”
Ah… tinha se enganado.
Ao ver aquela fantasia de cosplay chamativa, ele pensou imediatamente: “Erro meu.”
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