Side Story — O Projeto do Futuro Desenhado no Vazio
Uma empresa de capital aberto especializada em inteligência artificial e tecnologia da informação.
Nos últimos anos, seus sistemas internos haviam sido amplamente automatizados, o que contribuiu para o aumento da margem de lucro. No entanto, uma série de fracassos em investimentos paralelos levara a um declínio nos resultados.
O então presidente renunciou, assumindo a responsabilidade pelo fiasco.
Em seu lugar, fora nomeado um novo presidente um executivo renomado, com um histórico impressionante de reestruturações bem-sucedidas no exterior.
“Esta empresa vai renascer.”
O comentário ecoou dentro da sala da presidência.
O novo presidente falava de costas, fitando as janelas envidraçadas que refletiam o horizonte da cidade.
— Uma visão inspiradora, senhor — comentou a secretária ao seu lado, com um tom de admiração contida.
— A reorganização da estrutura interna foi um sucesso. Conseguimos reduzir drasticamente os custos com pessoal sem afetar as operações essenciais. E mais: a sinergia entre os novos setores foi meticulosamente planejada.
Os resultados ainda levarão algum tempo para aparecer nos números, mas é seguro dizer que teremos um aumento de dois dígitos nos lucros — talvez até recorde.
— Dois dígitos, hm...? — murmurou ele, pensativo. — Eu esperava, no mínimo, dobrar.
— Considerando o porte da empresa, senhor, já é um feito extraordinário.
— Obrigado.
O presidente sorriu, um sorriso aberto, confiante.
Deixou o horizonte e voltou o olhar para a secretária.
— Mudanças sempre trazem ruídos. Há alguma reclamação vinda do chão de fábrica?
— …Sim. De fato, há um setor desfeito recentemente que chama atenção. A taxa de rotatividade de funcionários disparou de forma anormal.
— É mesmo? Mostre-me os dados.
A secretária tocou no tablet e exibiu um gráfico.
— Ah… este setor. — Ele franziu o cenho, como se se lembrasse de algo.
— O senhor já tinha ouvido falar?
— Ouvi. Lembro bem. — O tom dele ficou quase divertido. — Havia uma mulher estranha lá… sempre sentada diante do computador. Parecia estar usando uma fantasia, como se fosse uma personagem de algum jogo.
— Fantasia…? — A secretária não conseguiu conter um sorriso. — Perdão, senhor, mas… isso é um tanto inusitado.
— Não se preocupe. Eu mesmo achei engraçado na época — respondeu ele, rindo levemente.
A risada ecoou suave pela sala luxuosa.
— Fiz uma checagem depois — continuou. — Aparentemente, ela era responsável por um sistema essencial. Mas, na prática, todo o processo já estava automatizado. O manual de operação era completo, e ela era a única pessoa alocada ali.
— Ou seja…
— Exatamente. Um custo desnecessário.
O presidente falou com frieza, como se cuspisse a palavra.
Voltou-se novamente para a janela, observando os arranha-céus como quem contempla o próprio império.
— Vi muitos funcionários inchados de orgulho disse ele, em tom neutro. — Gente que acredita ser insubstituível só porque enfrentou um pouco de dificuldade. Essa ilusão de singularidade é o que cria custos invisíveis.
A verdadeira reestruturação é cortar isso.
E o papel de um gestor é continuar expandindo a empresa, mesmo sendo odiado pelos que ficaram para trás.
Fez uma pausa. O silêncio pesou.
— Diga-me — perguntou, sem se virar —, há algo de errado nesse raciocínio?
— De forma alguma, senhor. O senhor está absolutamente certo.
— …Entendo. Obrigado.
O olhar do presidente voltou a se fixar na paisagem urbana.
Em seus olhos, havia apenas o reflexo de gráficos ascendentes e cifras em constante crescimento.
Nada mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário