Capítulo 01 – Demissão Repentina
“Espera… vocês estão me demitindo mesmo, sendo que eu gerencio sozinha todo o sistema da empresa?”
Não pude acreditar no que ouvi.
O gerente, apoiando a mão no meu ombro, franziu a testa ainda mais do que de costume e disse:
“Você se lembra daquele homem de terno brilhante que veio visitar a empresa outro dia?”
“Ah… ele ficou lá atrás, né?”
“Falamos sobre a troca de presidente, lembra?”
“Ah…”
A ficha caiu.
Eu sempre faço cosplay no trabalho. Naquele dia, minha fantasia era… uma succubus, super provocante.
“Ah, sim… estava bem… ousada.”
“Estamos acostumados, mas para alguém de fora não causou boa impressão.”
“Mas isso não quebra nenhuma regra interna.”
“Para o novo presidente, foi demais.”
O novo presidente queria cortar custos e decidiu observar pessoalmente cada setor antes de decidir quem ficaria. Depois de uma inspeção de um mês, alguns departamentos foram considerados dispensáveis e o meu estava na lista.
Naturalmente, a empresa ofereceu “saída voluntária” para quem sobrasse. E, para alguém como eu, vestida daquela forma, não havia chance.
“...Tudo bem, mas vocês estão falando sério?”
“Eu tentei avisar que isso era loucura, mas não adiantou. Então, também comecei a procurar outro emprego.”
“Você é bem proativa.”
“Gerente precisa tomar decisões difíceis. Essa empresa tem tendência de subestimar os técnicos. Podemos automatizar tudo, mas quem criou a automação fomos nós, técnicos. Esquecer isso é perigoso. Mas ok, vou tirar minhas férias agora.”
E assim, fiquei desempregada.
Claro, a lei garante aviso prévio; não fui simplesmente dispensada da noite para o dia. Mas estava cansada e queria focar nos meus hobbies. Então, não senti arrependimento, apenas um pouco de frustração.
Entrei na empresa seis anos atrás, recém-formada. O departamento era um verdadeiro inferno:
Horas extras constantes, dormir na empresa…
Colegas parecendo mortos-vivos, chefes com olhares profundos e assustadores…
Três refeições diárias de barras energéticas, dormindo em três cadeiras enfileiradas.
Escolhi a empresa pelo prestígio “white company”, mas acabei sendo a exceção que caiu no lado negro.
O pior era a falta de tempo para a vida pessoal. Sou otaku, adoro anime e mangá. Para nós, os “três nutrientes essenciais” não bastam: precisamos de subcultura para sobreviver.
Quando me tiraram os animes, senti que minha alma se minguava. Então comecei a criar cosplay sem nem perceber. E o efeito foi… transcendental. Ou, em termos simples: automação.
Automatizei tudo. O que levava uma hora poderia ser feito em minutos com programas. Cinco anos de esforço com colegas e incentivo dos meus ídolos para automatizar cada tarefa… e no final, fui demitida.
Trabalho duro, paixão e eficiência não garantem reconhecimento. E ainda assim, a frustração só fez minha vontade de gritar aumentar:
“Isso é uma piada?!”
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