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segunda-feira, 13 de outubro de 2025

O quê? Vocês vão me demitir por ser a única operadora dos sistemas da empresa? - Capítulo 02

Capítulo 02 - Reencontro Repentino



No meu restaurante favorito, eu estava bebendo refrigerante de melão como se fosse água.

— Ora, se não é a Sato-san!

— Ahhh!? Que diabos você tá olhando, seu idiota!?

Respondi como uma bêbada.

— Hahaha, pelo jeito isso é… vinho, talvez?

— Não mistura refrigerante de melão com álcool, caramba!

Fiquei furiosa. O desconhecido, um cara tentando paquerar, parecia confuso.

— Você está bebendo bastante. Não se lembra de mim, né?

— …Ahhh?

Informações: terno, jovem, razoavelmente bonito.

— Não conheço!

— Hahaha, certo, não se lembra mesmo.

O garoto bonito abaixou a cabeça, parecendo um pouco triste. Ao ver isso, de repente me lembrei:

— Você é o Suzuki?

— Qual Suzuki?

— O que vivia chorando por aqui perto.

— Que lembrança horrível… mas certo. Quanto tempo!

Ah, tem mesmo o mesmo rosto! Sim, exatamente!

— Oi, Suzuki! Quanto tempo! Sempre tão superficial, o que anda fazendo?

— Hahaha, dói ouvir isso. Você continua a mesma, Sato-san.

— Ah, Sato-san nada. Pode me chamar de Ai-chan, como antes.

— Então me chama de Kenta.

Nos reencontramos por acaso agora que viramos adultos. E, mesmo depois de tanto tempo, a conversa fluiu como se nunca tivéssemos nos separado.

Kenta, Ai-chan. Será que nos chamávamos assim antes? Acho que até o ensino médio, nos víamos com frequência. Depois do colégio, nos separamos, e foi isso. Mesmo assim, não faltaram assuntos: sobre clubes na escola, universidades, e muito mais.

— Uau, Kenta vai abrir a própria empresa? Que legal!

— Hahaha, abrir só a empresa não é nada difícil.

— O que vai fazer?

— Isso não posso dizer… Ai-chan, e você, o que anda fazendo?

— Eu? Ah, fiquei desempregada…

— …Poxa, que notícia ruim.

Bateu nas minhas costas, dizendo para não me preocupar. Bebi o resto do refrigerante de melão e, um pouco mais séria, disse:

— Por que será que técnicos são tão subestimados?

Era só um desabafo.

— A gente estuda coisas difíceis, se esforça muito, é chamado de talento qualificado, consegue emprego fácil, mas o salário não é grande coisa. Trabalha em desespero, automatiza tudo, e depois… “tchau, já não precisa mais de você”. Que absurdo, né?

Eu estava revoltada com a reforma trabalhista que resultou na minha demissão.

— Nós nos esforçamos muito!

O ambiente era além de difícil; literalmente perigoso. Alguns colegas chegaram a quebrar emocionalmente. Quando apareci pela primeira vez fantasiada, todos reagiram surpresos. Ainda assim, nós nos esforçamos. Automatizamos cada tarefa. Para nós, para os colegas. E quando terminamos, nunca esquecerei aquele momento: os colegas, normalmente calados, comemorando, e a sensação do toque em um “high five”.

— …A gente se esforçou tanto…

As lágrimas escaparam. Meu orgulho, minhas lembranças, minhas conquistas… a empresa não se importava. Não queria vingança, nem recompensa, nem humilhar o novo presidente. Só…

— …É frustrante.

Sussurrei isso, sem conseguir dizer mais nada.

Kenta mordeu o lábio, ouvindo em silêncio.

— Ai-chan…

— Desculpe, deixa pra lá. Startups são complicadas, não precisa se preocupar em me empregar por pena.

Ele ficou em silêncio, desviando o olhar, parecendo constrangido.

Logo, chegou a hora de pagar. Ao nos despedirmos, Kenta perguntou:

— Aliás, em que empresa você trabalhava?

— RaWi Co., uma grande empresa, conhece?

— Claro! Impressionante.

— Só era uma black company.

Quando me preparei para ir embora, ele me segurou:

— Sato-san… você não conhece alguém?

— Sato sou eu.

— Hahaha, certo, mas…

— Brincadeira. Mas… humm, será que havia outro além de mim?

Fiquei seis anos na empresa, mas nunca vi outro Sato.

— Já ouviu falar da Orlabi System?

— Oh, você conhece bem. Fui eu que criei.

Kenta arregalou os olhos. De repente, segurou minha mão:

— Eu te procurei todo esse tempo. Quero você.

— …Hein?

Não era pedido de casamento. Ele era o CEO da startup buscando uma engenheira talentosa só isso.

— Não, eu não posso trabalhar agora…

— Você é a melhor engenheira!

— Ei, calma! Tá gritando…

— Orlabi System é uma obra-prima. Nunca vi nada igual. Quem criou isso… eu não posso permitir. Jamais.

Engoli em seco e levantei o olhar.

— …Por que você tá chorando, Kenta?

— Porque é frustrante.

Meu amigo de infância, agora totalmente homem, estava com lágrimas nos olhos. Mas não desviava o olhar.

— …Que… coisa.

Pela primeira vez, ele não desviou o olhar de mim. Meu rosto queimava, meu coração ardia. Isso… era tudo que eu queria ouvir.

— Prometo. Vou mudar o mundo. Vou criar um lugar onde você possa brilhar.

No fim, aceitei o convite do meu amigo de infância.
O principal motivo: ele prometeu que eu poderia trabalhar fantasiada se quisesse.


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