sábado, 11 de outubro de 2025

Red Overlord - Capítulo 02

Capítulo 2 — Que velho de merda é esse?

A partir daquele dia, eu mudei.

Até então, quando os delinquentes me espancavam ou as pessoas me insultavam, eu aceitava como “não havia o que fazer”. Por isso nunca resisti apenas seguia levando. Mas desde o dia em que vi aquela linda garota loira… algo em mim mudou.

— Um dia eu vou matar esses que me bateram…!
— Vou rasgar as bocas dos que me insultaram…!
— Vou fazer as famílias deles sentirem a mesma dor…!

A raiva encheu todo o meu ser. Mas eu sabia também que se me entregasse só à raiva, acabaria apanhando de volta. Eu entendia isso.

Como eu poderia me vingar…? Aos doze anos, eu não sabia. E, acima de tudo, eu mal conseguia sobreviver não tinha tempo nem cabeça para planejar.

Passei por um inverno terrível e quando a primavera chegou eu tinha treze anos. Mas a realidade não mudara. Só desejar vingança não mudava nada.

“Que nojo desse cara!”

Quantas vezes já tinham me batido? Se meu corpo não fosse tão resistente, eu teria morrido há muito tempo.

“Se eu te ver com essa cara de novo, vou te deixar sem poder andar pra sempre.”

Quando a violência finalmente acabou e os delinquentes foram embora, levantei-me em pedaços e cambaleei. Tinha gosto de sangue na boca. Era frustrante, mas… não havia nada que eu pudesse fazer agora.

“Ei, você.”

De repente, uma voz ao meu lado. Quando me virei, vi um velho me observando.

Cabelo branco, roupas surradas, um cajado gasto… baixo, com o rosto de rato. Em suma: um velho pobre e miserável, nada além disso.

“Por que você não chora?”

O velho me perguntou aquilo. Quis ignorar a pergunta ridícula, mas ele falou de novo.

“Tô perguntando por que você não chora, depois de apanhar tanto.”

“...Porque, mesmo chorando, ninguém vai me ajudar.”

Cansado de tudo, respondi em voz baixa.

“Heh, então você entende.”

O velho sorriu satisfeito.

Que porra de sujeito era aquele...? Ignorei-o e tentei andar, mas o velho se adiantou apressado e bloqueou meu caminho.

“É isso que você quer pra si?”

“O que... tá dizendo?”

“Você vai ficar aí apanhando sem revidar? Não quer se vingar?”

Ao ouvir aquilo, senti um calor estranho percorrer o corpo.

“Um dia...”

“O quê?”

“Um dia eu vou matá-los com certeza...!”

O velho sorriu de novo ao ouvir minha resposta. Só que não era o mesmo sorriso satisfeito de antes era um sorriso de escárnio frio.

“Que vingancinha tão ridícula.”

“...O quê?”

Olhei para ele com raiva, mas o velho nem se mexeu e continuou falando.

“Mesmo que você mate aqueles caras, o resultado será que você será preso como assassino.”

“Mesmo assim...”

“Você aceita isso? Você não é nobre nem rico. Se te pegarem por homicídio, com certeza será sentença de morte e daquelas brutais. Vão arrancar seus braços e pernas, você morrerá gritando numa poça de sangue. Você acha que estaria satisfeito com esse fim?”

As palavras dele me perfuraram o peito.

“E mesmo se, por sorte, você escapasse sem ser pego, nada mudaria: as pessoas ainda te desprezariam. Em outro lugar outros delinquentes te espancariam. Então você planeja matar à força, aceitando a chance de ser despedaçado numa execução?”

“O que você quer dizer com isso...?”

“Não se contente com uma vingancinha pequena dessas.”

O rosto do velho ficou sério. Na verdade, seus olhos pequenos passaram uma crueldade estranha.

“Matar uma ou duas pessoas não vai mudar sua realidade. Cem? Duzentos? Ainda não será suficiente.”

“Você...”

“Se quer mudar sua realidade, só há uma saída: destruir este reino.”

Q-que negócio era aquele velho...? Um pobre miserável dizendo para eu destruir o reino...?

“Você ao menos sabe por que é que te batem?”

“Porque...”

— Porque minha pele é vermelha, pensei.

“Você acha que é por causa da cor da pele? Isso é só uma desculpa para bater. Há uma razão mais profunda.”

“Qual?”

“Se isto fosse um reino de pessoas de pele vermelha, e você fosse o único de pele branca... você seria chamado de ‘branco nojento’ e espancado.”

Pensei.

“Entende? A razão fundamental de você apanhar é que você é fraco e está em minoria. Ser esmagado é uma lei da sociedade humana.”

Fitei o velho. Apesar da face de rato, havia nele uma sensação de astúcia.

“Se não gosta de apanhar, poderia juntar pessoas na mesma situação e se tornar maioria mas você não pode. Você é o único com pele vermelha aqui.”

A voz do velho gelou a minha espinha.

“Se uma pessoa só tenta mudar a realidade, precisa de poder. E não um poderzinho suficiente para matar cem ou duzentos não basta. Precisa de poder para destruir este reino e criar um novo país só seu.”

Meu corpo começou a tremer. Eu... teria esse poder?

“Você fala como se soubesse de tudo.”

“Bem, pelo menos sei mais que você.”

“Então diga como um pobre como eu consegue o poder de destruir um reino?”

“Quer saber? Então venha comigo.”

O velho respondeu e, sem esperar minha reação, começou a andar.

“E-ei! Espera!”

Gritei, apressado, mas ele nem se virou.

“Oportunidades na vida não esperam. Você tem que correr atrás.”

“Porra...!”

Por um momento hesitei. Talvez fosse uma armadilha. Mas se eu não o seguisse, também não havia nada a perder.

Acabei deixando o resto para trás e fui atrás do velho.





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