Capítulo 03 — Isso é que chamam de poder?
— Qual é o teu nome? — o velho perguntou de repente.
— …Red. — respondi.
O velho riu do jeito que eu já suspeitava que faria.
— Heh, que nome é esse? Red porque é vermelho? Nome ridículo.
— E você, qual é o seu nome?
— Eu não tenho nome.
— Como assim? — franzi a testa. — Até eu tenho nome; não tem como você não ter.
— Só que, na real, não tenho mesmo. Bom, o povo por aí me chama de “Velho Rato”.
— Hein? Porque tem cara de rato, então “Velho Rato”? Que nome horrível.
— Cala a boca.
Passamos pelo portal da cidade. A partir dali, era terra de ninguém.
— Ei, véio! Até onde a gente vai? Já estamos fora da vila.
— Tem um riacho mais adiante, né? Minha casa fica por ali.
Pensei que fosse uma armadilha. Se fosse preciso, eu derrubaria o velho e fugiria era o que pensei. O Velho Rato era franzino; um confronto um a um seria moleza para mim. Só precisava ter cuidado para não ser cercado.
— Ali é minha casa. Vê?
O velho apontou com a bengala. A um pouco de distância da trilha havia uma casinha caída, tão precária que parecia prestes a desabar combinava com o dono.
— Aqui a gente pode conversar com calma ele disse, parando na porta. Eu olhei ao redor rápido; não havia sinal de emboscada.
— Então fala logo. Como um vagabundo como eu vai derrubar um reino? — perguntei, impaciente.
O velho sorriu.
— Certo, vou te ensinar a lição mais importante.
Quase perguntei “a lição mais importante?” mas, antes que eu abrisse a boca, a bengala dele acertou meu plexo solar com força.
— Ugh…!
Um choque percorreu meu corpo como um raio. Doeu muito mais do que quando apanhei dos delinquentes.
— Já sei o que você tá pensando — a voz fria do velho soou por cima de mim, enquanto eu me curvava no chão. — Você me seguiu até aqui porque achou que um velho frágil seria fácil de derrubar, né? Mas errou feio.
— Seu… — consegui resmungar.
— Escuta bem. A lição número um é: não subestime.
Levantando-se com dificuldade, ainda tremendo, ouvi o velho falar.
— Houve um cavaleiro conhecido como “o Cavaleiro Touro” no Reino do Oeste. Era famoso por feitos de guerra. Um dia, patrulhando suas terras, ele encontrou uma mulher bela. Era uma nobre arruinada de um reino vizinho. Comovido, ele a acolheu, cuidou dela e, claro, se apaixonou. E começou a se encontrar com ela às escondidas.
A voz do velho ficou ainda mais cortante.
— Entende? Ele cometeu o mesmo erro que você: relaxou a guarda. Um belo dia, o Cavaleiro Touro, outrora renomado, foi encontrado morto — decapitado, nu.
O velho bateu de leve meu plexo com a bengala.
— Quem baixa a guarda só porque a pessoa parece fraca uma mulher delicada, uma criança, um velho sem dentes não tem direito a reclamar quando for morto. Marque isso na cabeça.
— …Entendi — respondi, encarando o sujeito.
— E o que vem depois? Conta logo. — disse, exigindo.
— Heh, pelo menos tem coragem — o velho sorriu satisfeito. — Então vou te mostrar o “poder capaz de derrubar um reino”.
— O quê?
Ele virou de costas e abriu a porta da casinha surrada.
— Está aí dentro. Vê só.
Com cuidado, espiando a cabana, vi que havia muitas coisas empilhadas. O velho pegou um volume e ergueu.
— Isso é… livro.
— Não me trate como idiota, velho. Eu sei o que é um livro.
— É? E você sabe ler?
Fiquei sem resposta.
— Claro que não sabe, né? Por isso não usa o poder dos livros.
— Que poder teria um pedaço de papel?
— “Conhecimento.” — o velho respondeu sério. — Esses papéis têm o poder chamado conhecimento.
Ele abriu o livro para mim.
— Por exemplo: você tem um corpo robusto. Com essa força, deveria ter esmagado aqueles bandidos. Mas apanhou porque não sabe usar sua força de modo eficiente falta de “conhecimento” sobre como aplicar a força. Neste livro está descrita uma arte marcial desenvolvida no leste. Se você aprender esse conhecimento e souber aplicá-lo na prática, ninguém na cidade poderá te derrotar.
Será que era verdade? Será que o conhecimento tinha esse tipo de força?
— O conhecimento, bem usado, pode mudar a vida de uma pessoa, derrotar um exército invencível, até derrubar um reino. Esse é o verdadeiro poder do conhecimento.
Meu peito bateu mais forte. Se o velho falava a verdade… eu poderia me vingar.
— Então eu vou usar esse poder…? — perguntei.
— Primeiro começa pelo básico: aprender a ler. A partir de hoje, segue minhas instruções e estuda as letras.
A voz do velho, miserável e áspera, soou para mim como um oráculo. Um calor nasceu dentro do peito algo que eu nunca havia sentido: esperança. A esperança incendiou minha raiva e me deu força.
Mas uma dúvida persistia: por que esse Velho Rato me ajudava?
— Velho, por que me ajuda? Qual é o seu objetivo?
— Heh, meu objetivo? Não interessa. Mesmo que eu fosse o demônio e quisesse destruir o mundo… você não teria escolha a não ser seguir minhas palavras.
— …Pode ser. No fim, eu não tenho nada mesmo.
Olhei meu corpo com desprezo; só havia miséria e desespero.
— Certo. Vou fazer do jeito que você manda…! — declaring. Se com isso eu pudesse me vingar daqueles que me humilharam, daqueles que me bateram… até daquela garota, tanto faz se o velho for demônio ou não!
— Espere. — o velho trouxe algo da cabana e me atirou. Reagi e peguei: eram roupas e sabão.
— Lave-se naquele riacho e vista essas roupas. Cara, você fede demais.
— …Certo.
Irritado, mas com a intenção de manter o velho de bom humor por enquanto, segui até o riacho com as roupas e o sabão. Pensei que, quando tivesse poder, iria cobrar satisfação daquele velho. E com esse pensamento caminhei em direção à água.
【Anterior】
Nenhum comentário:
Postar um comentário