Capítulo 06 — Tanaka explora o próximo caminho
— Ei, ei, que conversa é essa, Tanaka?
Adachi suspirou de propósito, exagerando o gesto.
— Ficou famoso e agora quer jogar tudo fora? Uma oportunidade dessas não aparece todo dia, sabia?
— E você, o que está falando? Eu não sou streamer, nem influencer, sou só um assalariado. Ficar famoso não vai trazer nada de bom. Só vai me render reclamações do chefe.
Assim que pronunciei “chefe”, um nó se formou no estômago.
Até meu estômago, que resistira a comer slime ácido capaz de derreter ferro, se mostrava frágil diante do estresse.
— Parece que a mentalidade de funcionário modelo já grudou em você, Tanaka. Escuta, é simples: se o trabalho tá te matando, larga tudo. Pelo que vi no vídeo, você tá com umas olheiras do tamanho do mundo. Aposto que o Suda ainda te explora por uma mixaria, né?
— ...Não posso negar isso.
O “Suda” que Adachi mencionou era o presidente da guilda em que eu trabalhava.
Eu, Adachi e Suda éramos colegas de infância. Passávamos juntos boa parte da infância e adolescência.
— Mas, sobre o Suda... ele me ajudou. Não posso simplesmente largar tudo de repente...
— Isso é sobre quando ele te emprestou dinheiro quando seu pai adoeceu, certo? Já devolveu e já compensou trabalhando, não é? Tá na hora de você viver pra você mesmo.
— Viver pra mim mesmo... — murmurei, sentindo um peso sair do peito.
Nunca tinha pensado nisso. Sempre ocupado demais para refletir sobre algo assim.
Então, eu podia, sim, viver para mim mesmo.
— Aposto que o Suda disse algo como “Se você sair daqui, não vai arranjar outro emprego!”
— ...Ele disse.
— Hahaha, aquele velho tá perfeito no papel de chefe tirano. Não leve a sério essas palavras, Tanaka. Existem várias guildas que gostariam de ter alguém como você. E, se quiser, ainda tem a opção de ser freelancer.
— Mas freelancer não consegue ganhar dinheiro, né? Eu não tenho a licença de conversão.
No sistema do dungeon, os itens não podiam ser convertidos diretamente em ienes. Primeiro, era preciso transformá-los em “G — Gold”, uma moeda especial.
Depois, para converter em ienes, era necessária uma licença, geralmente só disponível para guildas, não para indivíduos.
Um processo chato, mas necessário para não quebrar a economia. Os itens da dungeon eram, literalmente, valiosos demais.
— Eu não estou dizendo pra você virar freelancer. Quero que você seja um streamer de dungeon.
— Streamer de dungeon...?
Como o nome sugere, seria alguém que transmitisse em vídeo suas aventuras nos dungeons. Alguns conseguiam muito dinheiro com isso, mas será que eu conseguiria?
— Não estou dizendo que você tem que conseguir, só que se decidir tentar, vou te apoiar totalmente.
— Isso é encorajador. Vou confiar em você.
Adachi trabalha numa empresa de suporte a exploradores. Ele entende do assunto de streams de dungeon. Sempre foi oportunista, mas confiável quando importa.
— ...Mas sair da empresa? Não consigo imaginar.
A ideia de ficar desempregado pesa demais aos meus olhos.
Parecia que Adachi percebeu meu dilema:
— Não gosto de dizer isso, mas... eu te admiro, sabia?
— Hã? Você, me admira?
Aquelas palavras me deixaram atônito.
— Sempre quis ser explorador. Aventurar-me nas dungeons, brilhar... Mas vendo você lutar, percebi que, se existir alguém incrível como você, não preciso me esforçar tanto.
— Adachi...
Nunca soube que ele pensava assim. Era até constrangedor.
— Por isso entrei pra empresa de suporte a exploradores. Um dia, ajudaria alguém especial.
— Hã? Quem seria? Alguém que eu conheço?
— ...Você sempre foi meio lento, né?
Adachi suspirou, resignado, como se fosse inevitável.
— Enfim, se seu trabalho tá te sufocando, larga. Quer? Posso até te contratar na minha empresa pra servir chá.
— ...Se até isso parece atraente, então estou bem ferrado.
Brincando, Adachi riu:
— Pois é, caso sério.
Conversar com ele acalmou meus pensamentos. Agora eu conseguia tomar decisões com clareza.
— Você consegue derrotar até um Tyrant Dragon. Não deixe o Suda te vencer.
— Obrigado. Entrarei em contato.
Com isso, encerramos a ligação. Olhei para o relógio: já era hora de começar o expediente. Outros funcionários chegariam a qualquer momento.
Então, a porta da empresa se abriu com um estrondo.
Um olhar fixo me atingiu assim que a pessoa entrou.
— ...Tanaka, está preparado?
Era Akihiro Suda, presidente da Black Dog Guild e meu velho amigo de infância, falando com voz grave e ameaçadora.
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