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terça-feira, 14 de outubro de 2025

O funcionário de uma Guilda obscura virou Influenciador Vol. 01 - Capítulo 05

Capítulo 05 – “Tanaka atende o telefone” 


— Uau... está todo mundo falando sobre isso...

Era o dia seguinte ao desastre da transmissão ao vivo.
Acordei, como sempre, na minha cadeira do escritório. Enquanto rolava as redes sociais e os portais de notícia, murmurei sozinho.

As manchetes diziam:

“Explorador misterioso derrota o abismo em modo solo!?”
“O Santo da Espada Corporativa derrota sozinho o monstro classe S, o Dragão Tirano”
“Primeira transmissão ao vivo ultrapassa 100 milhões de espectadores simultâneos candidato ao Guinness!”
“Guilda Cão Negro pode ter violado a Lei Trabalhista dos Exploradores”
“Especialistas debatem: o vídeo é real ou montagem?”

E nas redes, era um caos:

“Esse cara é forte demais! Como é que ninguém conhecia ele antes?”
“Então a Black Dog tava escondendo um monstro desses, né? Agora entendo por que recebem tanto contrato do governo.”
“Sinto que ele é um de nós, um assalariado sofrido... dá pra ver pelos olhos mortos.”
“Tem gente caindo nessa montagem! Se não consegue distinguir o real do falso, melhor nem usar internet!”
“Mas ele tava incrível! Alguém sabe o contato dele?”
“Nossa guilda devia recrutar esse cara! Alguém sabe onde encontro ele?”
“Por que ele ainda tá na Black Dog? Poderia conseguir um emprego muito melhor fácil!”

Tudo girava em torno de mim.

Então é isso que chamam de “viralizar”, pensei.
Mas, vivendo afundado em trabalho, eu estava completamente por fora dessas coisas.
Seria bom ouvir a opinião de alguém mais antenado.

— É verdade que só um maluco como eu se aventuraria sozinho nas camadas profundas... mas será que isso é motivo pra tanto alarde?

Inclinei a cabeça, confuso.
Ultimamente, eu só explorava em modo solo já nem sabia em que nível os outros estavam.

Comecei a me aventurar desde que as dungeons surgiram no mundo, então sabia que era relativamente forte.
Mas nunca imaginei que causaria tamanha comoção.

— Talvez seja o contraste... um cara de terno, com cara de funcionário cansado, lutando contra um dragão. Deve ser isso.

Sorri com ironia.
De repente, o celular vibrou.

— Agh!

Dei um pulo e, reflexivamente, me agarrei no teto.
Desde ontem, o som do celular me dava calafrios.
Ainda estava traumatizado com aquele inferno de notificações.

Mesmo já tendo desconectado o D-Tube, meu corpo reagiu antes da razão.
Olhei a tela: “Adachi Mitsuru Chamada recebida.

Adachi era um dos poucos amigos que eu tinha.
Costumávamos sair juntos anos atrás, mas a correria me fez praticamente esquecê-lo.
Se estava ligando agora, só podia ser por causa da transmissão.
Eu não queria falar sobre isso... mas também não tinha ninguém melhor com quem desabafar.

Hesitei alguns segundos e atendi.

— Alô...

— TANAKAAA! Vi o vídeo! Cara, eu ri tanto! E aí, qual é a sensação de virar meme!?

— Tô desligando.

Desliguei na hora.

Suspirei.
Melhor me preparar pro expediente.
Mas, antes que pudesse pousar o celular na mesa, ele começou a tocar de novo.
Soltei outro suspiro e atendi, resignado.

— O que foi?

— Calma, calma! Foi mal, prometo que não vou zoar mais... pfff

— Quer que eu desligue de novo?

— Não, não! Perdão! Eu juro!

Adachi sempre foi assim fala demais e se arrepende depois.
Mas ele era um bom sujeito.
E, sinceramente, eu precisava de ajuda.

— Tá bom, não vou desligar. Fala.

— Beleza! Valeu, cara. Então... vi o vídeo. Você tá ainda mais forte do que antes, hein? Aquele dragão, mano! Foi insano!

— Dispensa o elogio. O que eu quero saber é: o que eu faço agora?

— O que você quer fazer? — perguntou ele, invertendo o jogo.

Fiquei em silêncio por um instante.

O que eu queria...?

— Pra começo de conversa, queria apagar todos os vídeos.

— Hah! Esquece isso. Impossível.

Adachi soltou uma risada curta.
Cruel, mas realista.

— As compilações das suas lutas já passam das centenas. Sem contar que o vídeo já foi traduzido pra várias línguas.
Ouvi um gringo dizendo: “Há um samurai de verdade no Japão!”
Cinco idiomas diferentes, Tanaka. Cinco!
Desiste. Não tem como parar a internet.

— ...Já chegou a esse ponto?

Eu ainda achava que o problema se limitava ao Japão.
Mas quando ele mencionou “traduções”, percebi que o estrago era global.

Lembrei dos comentários durante a transmissão havia mesmo alguns em inglês...

Suspirei de novo, olhando para o teto do escritório.

— Então é isso.
O mundo inteiro viu o meu fracasso... e achou que era sucesso.


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