Capítulo 02 - Reencontro Repentino
— Ora, se não é a Sato-san!
— Ahhh!? Que diabos você tá olhando, seu idiota!?
Respondi como uma bêbada.
— Hahaha, pelo jeito isso é… vinho, talvez?
— Não mistura refrigerante de melão com álcool, caramba!
Fiquei furiosa. O desconhecido, um cara tentando paquerar, parecia confuso.
— Você está bebendo bastante. Não se lembra de mim, né?
— …Ahhh?
Informações: terno, jovem, razoavelmente bonito.
— Não conheço!
— Hahaha, certo, não se lembra mesmo.
O garoto bonito abaixou a cabeça, parecendo um pouco triste. Ao ver isso, de repente me lembrei:
— Você é o Suzuki?
— Qual Suzuki?
— O que vivia chorando por aqui perto.
— Que lembrança horrível… mas certo. Quanto tempo!
Ah, tem mesmo o mesmo rosto! Sim, exatamente!
— Oi, Suzuki! Quanto tempo! Sempre tão superficial, o que anda fazendo?
— Hahaha, dói ouvir isso. Você continua a mesma, Sato-san.
— Ah, Sato-san nada. Pode me chamar de Ai-chan, como antes.
— Então me chama de Kenta.
Nos reencontramos por acaso agora que viramos adultos. E, mesmo depois de tanto tempo, a conversa fluiu como se nunca tivéssemos nos separado.
Kenta, Ai-chan. Será que nos chamávamos assim antes? Acho que até o ensino médio, nos víamos com frequência. Depois do colégio, nos separamos, e foi isso. Mesmo assim, não faltaram assuntos: sobre clubes na escola, universidades, e muito mais.
— Uau, Kenta vai abrir a própria empresa? Que legal!
— Hahaha, abrir só a empresa não é nada difícil.
— O que vai fazer?
— Isso não posso dizer… Ai-chan, e você, o que anda fazendo?
— Eu? Ah, fiquei desempregada…
— …Poxa, que notícia ruim.
Bateu nas minhas costas, dizendo para não me preocupar. Bebi o resto do refrigerante de melão e, um pouco mais séria, disse:
— Por que será que técnicos são tão subestimados?
Era só um desabafo.
— A gente estuda coisas difíceis, se esforça muito, é chamado de talento qualificado, consegue emprego fácil, mas o salário não é grande coisa. Trabalha em desespero, automatiza tudo, e depois… “tchau, já não precisa mais de você”. Que absurdo, né?
Eu estava revoltada com a reforma trabalhista que resultou na minha demissão.
— Nós nos esforçamos muito!
O ambiente era além de difícil; literalmente perigoso. Alguns colegas chegaram a quebrar emocionalmente. Quando apareci pela primeira vez fantasiada, todos reagiram surpresos. Ainda assim, nós nos esforçamos. Automatizamos cada tarefa. Para nós, para os colegas. E quando terminamos, nunca esquecerei aquele momento: os colegas, normalmente calados, comemorando, e a sensação do toque em um “high five”.
— …A gente se esforçou tanto…
As lágrimas escaparam. Meu orgulho, minhas lembranças, minhas conquistas… a empresa não se importava. Não queria vingança, nem recompensa, nem humilhar o novo presidente. Só…
— …É frustrante.
Sussurrei isso, sem conseguir dizer mais nada.
Kenta mordeu o lábio, ouvindo em silêncio.
— Ai-chan…
— Desculpe, deixa pra lá. Startups são complicadas, não precisa se preocupar em me empregar por pena.
Ele ficou em silêncio, desviando o olhar, parecendo constrangido.
Logo, chegou a hora de pagar. Ao nos despedirmos, Kenta perguntou:
— Aliás, em que empresa você trabalhava?
— RaWi Co., uma grande empresa, conhece?
— Claro! Impressionante.
— Só era uma black company.
Quando me preparei para ir embora, ele me segurou:
— Sato-san… você não conhece alguém?
— Sato sou eu.
— Hahaha, certo, mas…
— Brincadeira. Mas… humm, será que havia outro além de mim?
Fiquei seis anos na empresa, mas nunca vi outro Sato.
— Já ouviu falar da Orlabi System?
— Oh, você conhece bem. Fui eu que criei.
Kenta arregalou os olhos. De repente, segurou minha mão:
— Eu te procurei todo esse tempo. Quero você.
— …Hein?
Não era pedido de casamento. Ele era o CEO da startup buscando uma engenheira talentosa só isso.
— Não, eu não posso trabalhar agora…
— Você é a melhor engenheira!
— Ei, calma! Tá gritando…
— Orlabi System é uma obra-prima. Nunca vi nada igual. Quem criou isso… eu não posso permitir. Jamais.
Engoli em seco e levantei o olhar.
— …Por que você tá chorando, Kenta?
— Porque é frustrante.
Meu amigo de infância, agora totalmente homem, estava com lágrimas nos olhos. Mas não desviava o olhar.
— …Que… coisa.
Pela primeira vez, ele não desviou o olhar de mim. Meu rosto queimava, meu coração ardia. Isso… era tudo que eu queria ouvir.
— Prometo. Vou mudar o mundo. Vou criar um lugar onde você possa brilhar.
No fim, aceitei o convite do meu amigo de infância.
O principal motivo: ele prometeu que eu poderia trabalhar fantasiada se quisesse.
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