Capítulo 04 — Não aguento mais multitarefas – 3
— “Desculpe a demora. Meu nome é Suzuki, serei seu responsável.”
— “Ah, olá. Muito prazer.”
Era um escritório comum de uma pequena empresa.
Um apartamento qualquer em algum lugar de Tóquio.
O ambiente era limpo e organizado. Pelo lado negativo, quase vazio.
Perto da entrada havia algo parecido com uma recepção, mas não estava em uso. Atrás dela, havia um sofá e uma mesa. No momento, três adultos estavam sentados ali.
Dois homens de terno.
E uma garota mágica.
O espaço era, no mínimo, caótico. Suzuki foi o primeiro a falar:
— “Para começar, Sr. Odawara, você já sentiu que algum treinamento era inútil?”
— “…Ah, sim, algumas vezes.”
Será que isso era realmente uma escola de programação?
Uma empresa pequena, desconhecida, funcionários vestidos de forma completamente fora do normal… A única coisa disponível na mesa era papel e caneta, e a primeira frase do responsável parecia saída de um golpe.
— “Por que sente que é inútil? Eu acredito que seja porque o conhecimento adquirido não é imediatamente aplicável.”
— “…Sim, faz sentido.”
Shigeru manteve a mente alerta. Sempre pronto para fugir, sua desconfiança estava no auge.
— “Então, desta vez, vamos resolver apenas um problema que você está enfrentando.”
— “…Um problema que estou enfrentando?”
— “Sim. Você respondeu a uma pesquisa prévia, mas conte-me novamente. Por que quer aprender programação?”
…Este parece confiável.
O jeito de falar, a postura tudo passava boa impressão. Dava para confiar.
…Então e a outra ali, ao lado?
De alguma forma, parecia completamente anormal. Não parecia ter sentido algum.
Shigeru, confuso com a presença de Sato, começou a falar.
Ele explicou que nunca havia programado antes, mas que, recentemente, a empresa passou a exigir algum envolvimento com programação.
Suzuki escutava e respondia nos momentos certos, tornando a conversa fluida. No começo, Shigeru se distraía com Sato, mas em poucos minutos conseguiu se concentrar totalmente em Suzuki.
…Este cara é bom.
Suzuki assentiu após ouvir toda a explicação.
O trabalho de Shigeru não era criar programas, mas operar ou modificar os já existentes. Ele se via diante de uma enorme quantidade de código-fonte. Cada trecho parecia magia; compreender apenas algumas linhas já era difícil, e ali eram milhares.
— “Então, vamos desistir de ler o código-fonte.”
— “Desistir?”
— “Vamos usar papel e caneta.”
— “…Papel?”
Suzuki assentiu:
— “O que mais te incomoda é a modificação de programas, certo? Há um software que verifica algumas configurações e apresenta erros. É isso que você quer corrigir?”
— “Sim, exatamente.”
— “Você consegue explicar, de forma geral, como o programa funciona?”
— “Hum… Primeiro, ele armazena informações do banco de dados e das configurações em variáveis… depois… a parte difícil é…”
Suzuki olhou para Sato:
— “Sato, ao ouvir isso, que tipo de código você imagina?”
Sato ficou surpresa com a pergunta, e Shigeru, incrédulo, olhou para ela.
— “Acho que ele deve ter várias verificações de condições para checar cada configuração. Deve haver comentários e divisões estranhas, e muitas verificações alinhadas assim, uma atrás da outra.”
— “Exatamente! É exatamente assim.”
Shigeru, impressionado, concordou. Suzuki, por sua vez, começou a desenhar.
— “Ou seja, assim…”
Desenhou um círculo e escreveu “Leitura” dentro. Depois, listou verticalmente “Verificação 1”, “Verificação 2”, até “Verificação n”.
— “Ah, entendi. Visualmente fica mais claro.”
— “Ainda não acabou.”
Shigeru levantou uma sobrancelha. Suzuki manteve o sorriso e começou a explicar:
— “O programa tem muitas verificações, mas a ordem delas não importa. Ou seja…”
Virou a folha, desenhou outro círculo com “Leitura” e, desta vez, as verificações foram dispostas horizontalmente.
— “Ah… agora faz sentido. Não preciso compreender todas as linhas.”
A diferença era enorme. Apenas desenhar o fluxo tornava tudo compreensível.
— “Olhando assim, faz muita diferença.”
— “Sim. A maior parte do processamento humano depende de informações visuais. Além disso, estamos acostumados a aprender com papel e caneta por pelo menos nove anos.”
— “Verdade. Mesmo para estudar certificações, usamos papel e caneta. Por que nunca pensei nisso para programação…”
Suzuki largou a caneta e olhou Shigeru nos olhos:
— “Pronto, problema resolvido.”
— “Nossa, que alívio. Já pedi ajuda a colegas mais experientes antes, mas era muito técnico, e acabei fingindo que sabia. Mas assim… tão simples?”
— “Fico feliz que tenha funcionado.”
— “Sim. Com licença… mas no início, aquela…”
Shigeru lançou um olhar para Sato:
— “Fiquei surpreso…”
— “Ahaha, mas ela é uma engenheira muito competente.”
“Mas mesmo assim?” Sato olhou para Suzuki com desdém.
— “Por que… nada, deixa pra lá.”
— “Porque ela é fofa!”
Sato se estufou, orgulhosa. Suzuki reagiu como qualquer adulto:
— “Não aceito!”
A garota mágica de 28 anos ficou indignada.
— “Você conhece Nichiasa?”
— “…Nichiasa?”
— “Domingo de manhã!”
— “Ah, entendi.”
Shigeru sorriu constrangido e finalmente percebeu a roupa de Sato.
— “Ah, sim, lembrei. Minha filha assiste.”
— “Então você tem filha!”
— “Sim, cinco anos agora.”
— “Ah, que idade fofa! Vocês assistem juntos?”
Sato bombardeava de perguntas, e Shigeru deu um sorriso constrangido, diferente do início.
— “Não… quase nunca. Não temos muito tempo para conversar ultimamente.”
— “Ah… trabalho corrido, né?”
— “Sim… multitarefas, e às vezes nem sei mais o que estou fazendo…”
Um silêncio pesado surgiu. Suzuki se inquietou, tentando mudar de assunto, mas antes que pudesse, Sato falou em alto e bom som:
— “Sei exatamente como é!”
Eles se entreolharam, surpresos.
— “Eu trabalhava sozinha antes.”
— “Nossa, que difícil.”
— “Era como ser mãe… a ‘mãe da empresa’. Me perguntavam até onde havia documentos! Que coisa fofa, né? Assim mesmo, sabe?”
— “…Hahaha, parece divertido.”
Sato abaixou o tom:
— “Não tem outra opção senão rir.”
— “…É, multitarefas são terríveis.”
Suzuki ficou em silêncio, sentindo um abismo.
— “Perguntar tudo bem, mas um pouco de agradecimento seria bom.”
— “Verdade, ninguém elogia tanto.”
— “Trabalho é trabalho, mas esperar reconhecimento é importante.”
— “Sim, e que tal assistir anime com sua filha?”
— “…Ah, sim, com certeza.”
Uma sugestão repentina. Shigeru apenas deu um sorriso educado.
— “As memórias da infância ficam gravadas na alma. Filhos negligenciados crescem com cicatrizes. Cuide bem deles.”
— “Sato, não precisa se intrometer na vida pessoal do cliente…”
— “Mas ela é fofa, né?”
— “Sato, calma.”
Suzuki, claramente nervoso, tentou intervir.
— “Não, tudo bem. Concordo com ela.”
— “…Desculpe, de verdade.”
— “Imagina, sem problema.”
Mesmo assim, Shigeru não se incomodou:
— “Vocês duas são casadas?”
Suzuki quase gargalhou. Sato respondeu friamente:
— “Não, somos amigas de longa data.”
— “…Entendi.”
Shigeru, percebendo algo, sorriu levemente.
— “Bom, desculpem, mas tenho um compromisso agora…”
— “…Ah, certo. Está com pressa?”
— “Sim, com licença.”
— “Não, obrigado a você.”
Eles se despediram. Shigeru voltou para casa. Suzuki afundou no sofá, exausto.
Sato, pensativa por um instante, falou animadamente:
— “Podemos refletir depois, mas primeiro, vamos comemorar! Foi divertido!”
— “…Só um cumprimento formal…”
Suzuki soltou um suspiro profundo:
— “Sato, hora de treinar.”
— “Ei, eu estava atenta, viu?”
— “Não toque na vida pessoal. Reclamação na certa.”
— “Muito sério… pessoalmente, tem que se conectar mais.”
Conectar-se emocionalmente. Um dos valores mais importantes de Suzuki.
— “Em negociações, às vezes começamos com uma conversa casual, certo?”
— “…Sim, quem fala é mais importante que o que se diz.”
Sato sorriu maliciosa, consciente de que Suzuki estava prestes a se irritar:
— “Isso! Quem fala é mais importante que o que se diz!”
Sato pegou sua varinha mágica:
— “Olha só! Atendimento assim! Nada melhor que isso!”
— “…Será?”
— “Imbatível!”
— “…É mesmo…”
Suzuki… não desista. Você está certo.
— “Mas na próxima, seja mais cuidadosa.”
— “Sim!”
Suzuki suspirou.
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