segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O quê? Vocês vão me demitir por ser a única operador dos sistemas da empresa? - Capítulo 04

Capítulo 04 — Não aguento mais multitarefas – 3

— “Desculpe a demora. Meu nome é Suzuki, serei seu responsável.”

— “Ah, olá. Muito prazer.”

Era um escritório comum de uma pequena empresa.

Um apartamento qualquer em algum lugar de Tóquio.

O ambiente era limpo e organizado. Pelo lado negativo, quase vazio.

Perto da entrada havia algo parecido com uma recepção, mas não estava em uso. Atrás dela, havia um sofá e uma mesa. No momento, três adultos estavam sentados ali.

Dois homens de terno.

E uma garota mágica.

O espaço era, no mínimo, caótico. Suzuki foi o primeiro a falar:

— “Para começar, Sr. Odawara, você já sentiu que algum treinamento era inútil?”

— “…Ah, sim, algumas vezes.”

Será que isso era realmente uma escola de programação?

Uma empresa pequena, desconhecida, funcionários vestidos de forma completamente fora do normal… A única coisa disponível na mesa era papel e caneta, e a primeira frase do responsável parecia saída de um golpe.

— “Por que sente que é inútil? Eu acredito que seja porque o conhecimento adquirido não é imediatamente aplicável.”

— “…Sim, faz sentido.”

Shigeru manteve a mente alerta. Sempre pronto para fugir, sua desconfiança estava no auge.

— “Então, desta vez, vamos resolver apenas um problema que você está enfrentando.”

— “…Um problema que estou enfrentando?”

— “Sim. Você respondeu a uma pesquisa prévia, mas conte-me novamente. Por que quer aprender programação?”

…Este parece confiável.

O jeito de falar, a postura tudo passava boa impressão. Dava para confiar.

…Então e a outra ali, ao lado?

De alguma forma, parecia completamente anormal. Não parecia ter sentido algum.

Shigeru, confuso com a presença de Sato, começou a falar.

Ele explicou que nunca havia programado antes, mas que, recentemente, a empresa passou a exigir algum envolvimento com programação.

Suzuki escutava e respondia nos momentos certos, tornando a conversa fluida. No começo, Shigeru se distraía com Sato, mas em poucos minutos conseguiu se concentrar totalmente em Suzuki.

…Este cara é bom.

Suzuki assentiu após ouvir toda a explicação.

O trabalho de Shigeru não era criar programas, mas operar ou modificar os já existentes. Ele se via diante de uma enorme quantidade de código-fonte. Cada trecho parecia magia; compreender apenas algumas linhas já era difícil, e ali eram milhares.

— “Então, vamos desistir de ler o código-fonte.”

— “Desistir?”

— “Vamos usar papel e caneta.”

— “…Papel?”

Suzuki assentiu:

— “O que mais te incomoda é a modificação de programas, certo? Há um software que verifica algumas configurações e apresenta erros. É isso que você quer corrigir?”

— “Sim, exatamente.”

— “Você consegue explicar, de forma geral, como o programa funciona?”

— “Hum… Primeiro, ele armazena informações do banco de dados e das configurações em variáveis… depois… a parte difícil é…”

Suzuki olhou para Sato:

— “Sato, ao ouvir isso, que tipo de código você imagina?”

Sato ficou surpresa com a pergunta, e Shigeru, incrédulo, olhou para ela.

— “Acho que ele deve ter várias verificações de condições para checar cada configuração. Deve haver comentários e divisões estranhas, e muitas verificações alinhadas assim, uma atrás da outra.”

— “Exatamente! É exatamente assim.”

Shigeru, impressionado, concordou. Suzuki, por sua vez, começou a desenhar.

— “Ou seja, assim…”

Desenhou um círculo e escreveu “Leitura” dentro. Depois, listou verticalmente “Verificação 1”, “Verificação 2”, até “Verificação n”.

— “Ah, entendi. Visualmente fica mais claro.”

— “Ainda não acabou.”

Shigeru levantou uma sobrancelha. Suzuki manteve o sorriso e começou a explicar:

— “O programa tem muitas verificações, mas a ordem delas não importa. Ou seja…”

Virou a folha, desenhou outro círculo com “Leitura” e, desta vez, as verificações foram dispostas horizontalmente.

— “Ah… agora faz sentido. Não preciso compreender todas as linhas.”

A diferença era enorme. Apenas desenhar o fluxo tornava tudo compreensível.

— “Olhando assim, faz muita diferença.”

— “Sim. A maior parte do processamento humano depende de informações visuais. Além disso, estamos acostumados a aprender com papel e caneta por pelo menos nove anos.”

— “Verdade. Mesmo para estudar certificações, usamos papel e caneta. Por que nunca pensei nisso para programação…”

Suzuki largou a caneta e olhou Shigeru nos olhos:

— “Pronto, problema resolvido.”

— “Nossa, que alívio. Já pedi ajuda a colegas mais experientes antes, mas era muito técnico, e acabei fingindo que sabia. Mas assim… tão simples?”

— “Fico feliz que tenha funcionado.”

— “Sim. Com licença… mas no início, aquela…”

Shigeru lançou um olhar para Sato:

— “Fiquei surpreso…”

— “Ahaha, mas ela é uma engenheira muito competente.”

“Mas mesmo assim?” Sato olhou para Suzuki com desdém.

— “Por que… nada, deixa pra lá.”

— “Porque ela é fofa!”

Sato se estufou, orgulhosa. Suzuki reagiu como qualquer adulto:

— “Não aceito!”

A garota mágica de 28 anos ficou indignada.

— “Você conhece Nichiasa?”

— “…Nichiasa?”

— “Domingo de manhã!”

— “Ah, entendi.”

Shigeru sorriu constrangido e finalmente percebeu a roupa de Sato.

— “Ah, sim, lembrei. Minha filha assiste.”

— “Então você tem filha!”

— “Sim, cinco anos agora.”

— “Ah, que idade fofa! Vocês assistem juntos?”

Sato bombardeava de perguntas, e Shigeru deu um sorriso constrangido, diferente do início.

— “Não… quase nunca. Não temos muito tempo para conversar ultimamente.”

— “Ah… trabalho corrido, né?”

— “Sim… multitarefas, e às vezes nem sei mais o que estou fazendo…”

Um silêncio pesado surgiu. Suzuki se inquietou, tentando mudar de assunto, mas antes que pudesse, Sato falou em alto e bom som:

— “Sei exatamente como é!”

Eles se entreolharam, surpresos.

— “Eu trabalhava sozinha antes.”
— “Nossa, que difícil.”
— “Era como ser mãe… a ‘mãe da empresa’. Me perguntavam até onde havia documentos! Que coisa fofa, né? Assim mesmo, sabe?”
— “…Hahaha, parece divertido.”

Sato abaixou o tom:

— “Não tem outra opção senão rir.”

— “…É, multitarefas são terríveis.”

Suzuki ficou em silêncio, sentindo um abismo.

— “Perguntar tudo bem, mas um pouco de agradecimento seria bom.”
— “Verdade, ninguém elogia tanto.”
— “Trabalho é trabalho, mas esperar reconhecimento é importante.”

— “Sim, e que tal assistir anime com sua filha?”
— “…Ah, sim, com certeza.”

Uma sugestão repentina. Shigeru apenas deu um sorriso educado.

— “As memórias da infância ficam gravadas na alma. Filhos negligenciados crescem com cicatrizes. Cuide bem deles.”

— “Sato, não precisa se intrometer na vida pessoal do cliente…”

— “Mas ela é fofa, né?”

— “Sato, calma.”

Suzuki, claramente nervoso, tentou intervir.

— “Não, tudo bem. Concordo com ela.”
— “…Desculpe, de verdade.”
— “Imagina, sem problema.”

Mesmo assim, Shigeru não se incomodou:

— “Vocês duas são casadas?”

Suzuki quase gargalhou. Sato respondeu friamente:

— “Não, somos amigas de longa data.”

— “…Entendi.”

Shigeru, percebendo algo, sorriu levemente.

— “Bom, desculpem, mas tenho um compromisso agora…”
— “…Ah, certo. Está com pressa?”
— “Sim, com licença.”
— “Não, obrigado a você.”

Eles se despediram. Shigeru voltou para casa. Suzuki afundou no sofá, exausto.

Sato, pensativa por um instante, falou animadamente:

— “Podemos refletir depois, mas primeiro, vamos comemorar! Foi divertido!”

— “…Só um cumprimento formal…”

Suzuki soltou um suspiro profundo:

— “Sato, hora de treinar.”
— “Ei, eu estava atenta, viu?”
— “Não toque na vida pessoal. Reclamação na certa.”
— “Muito sério… pessoalmente, tem que se conectar mais.”

Conectar-se emocionalmente. Um dos valores mais importantes de Suzuki.

— “Em negociações, às vezes começamos com uma conversa casual, certo?”
— “…Sim, quem fala é mais importante que o que se diz.”

Sato sorriu maliciosa, consciente de que Suzuki estava prestes a se irritar:

— “Isso! Quem fala é mais importante que o que se diz!”

Sato pegou sua varinha mágica:

— “Olha só! Atendimento assim! Nada melhor que isso!”
— “…Será?”
— “Imbatível!”
— “…É mesmo…”

Suzuki… não desista. Você está certo.

— “Mas na próxima, seja mais cuidadosa.”
— “Sim!”

Suzuki suspirou.

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