Capítulo 05 — Isto é... o primeiro contra-ataque
E então, numa tarde de primavera, algo aconteceu durante um de nossos confrontos: meu punho roçou o corpo de aço do velho.
— Hô.
Não foi um golpe certeiro; foi apenas um toque. Ainda assim, o velho pareceu surpreso.
— Isso aí, Red.
Ele sorriu.
— Fica mais forte. Ultrapassa a mim...!
Mal terminou de falar, e o velho se moveu como um vendaval, desferindo sobre meu corpo uma chuva de golpes.
— Gah...!
Em um instante, fui reduzido a trapos e caí no chão. O velho não se importou e foi embora sem olhar para trás.
— ...“Isso aí”, é? Seu maldito velho...
Olhei para o céu limpo e sorri amargamente. Não era um sorriso de mágoa; era porque, pela primeira vez, eu sentia que havia ficado um pouco mais forte.
Lutar com todas as forças, melhorar um pouco, ser reconhecido só um pouco aquilo era prazeroso. Sim, aquilo era a sensação que nunca havia experimentado antes: a tal da realização.
Eu nunca tivera isso. Sobreviver dia após dia consumia todo o meu esforço; não havia espaço para me elevar. Mas, depois de conhecer o velho, tudo mudou. Eu finalmente enxergara um caminho.
Eu ficaria mais forte. Concentraria todo meu ser e ficaria mais forte. E um dia... eu alcançaria o que queria. Não era um desejo vago era convicção.
Quatro anos se passaram.
Aos dezessete, meu porte físico já suplantava o de muitos adultos. Meu corpo estava cravejado de músculos como aço fruto de anos de concentração total.
Mas não foi só o corpo que mudou. Eu obtivera o tal “poder” do velho: o conhecimento. Artes marciais, manejo de armas, táticas e estratégias... eu adquirira as forças necessárias para destruir este reino.
E, após quatro anos, voltei à cidade.
— ...Nada mudou por aqui.
Com o capuz cobrindo o rosto, caminhei pelas ruas. Cenário cinzento, adultos com olhares vazios, crianças famintas, montes de lixo, uma igreja desmoronada a cidade era igual àquela de minha infância.
— Ei, fala alguma coisa, porra!
Uma voz juvenil veio de um beco. Fui atraído por uma pontada de nostalgia e me aproximei.
— Não sabe falar, é? Seu pirralho!
Não pude evitar sorrir ao ver a cena. Quatro arruaceiros espancavam uma criança tão familiar quanto tudo aquilo.
— Vocês continuam os mesmos, hein.
Quando falei, os valentões se viraram.
— Eh? Quem é você?
Tirei o capuz.
— Esse aqui... é o Red?
Mesmo com o tempo, minha pele avermelhada continuava a mesma. Eles me reconheceram logo.
— Ouvi dizer que você anda morando com um velho estranho.
— Ei, Red. Deixa a arrogância. Só porque cresceu um pouco...
Aquele comentário não teve tempo de terminar meu punho encontrou o rosto do mais ousado. O nariz dele ruiu; sangue jorrou enquanto ele tombava. Não foi preciso outra sequência.
— Seu desgraçado...!
— Cansei. Venham todos de uma vez.
Com o meu desafio, os outros atacaram em conjunto. Planejavam cercar e espancar como antes. Só que, perto do velho, esses sujeitos eram lentos e patéticos demais.
Primeiro, chutei o joelho do cara da frente; a perna dobrou num ângulo impossível e um grito cortou o ar. Antes que o som terminasse, um soco no plexo do segundo o arremessou ao chão. Conhecia bem aquela dor.
O último homem estava apavorado com razão: três companheiros já jaziam no chão. Eu não mostrei clemência. Um chute na virilha o deixou incapaz de continuar como homem.
— Ei, Red. Não exagera a ponto de matar, tá? — ouvi uma voz atrás de mim. Quando me virei, o Velho Rato estava ali, como sempre imprevisível.
— Mesmo que sejam lixo, matar é homicídio — disse ele.
— Sei disso. Também não sou um monstro. Só quero garantir que não levantem mais.
— Que bondade — comentou ele, zombando.
Caminhei entre os caídos e pisei nos pés de cada um, quebrando um por um. Gritos de dor ecoaram pelo beco; eu tinha transformado quatro valentões em inválidos.
— E então? Que sabor tem a primeira vingança?
— É bom — respondi, sorrindo. Mas o sorriso não durou.
— Ainda assim... isto não basta.
— Claro que não. Meus verdadeiros alvos não são esses lixos.
— Eu sei.
— Então vamos. Não há tempo a perder com isso.
— Pois vamos.
Abandonei os restos dos covardes e me preparei para seguir. Foi então que senti um olhar. A criança que até pouco estava sendo espancada me olhava elevando os olhos até mim.
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