Capítulo 06 — Você é...
Aquela criança era... suja, magra e coberta de ferimentos.
Além disso, ainda escorria sangue do nariz resultado da surra que havia levado dos delinquentes há pouco.
Uma visão realmente lamentável.
Mas... ela não chorava.
Era como se eu estivesse olhando para o meu antigo eu.
— Red, o que está fazendo? — ouvi a voz do velho atrás de mim.
— Vai bater nessa criança também? — perguntou com frieza.
— Não vou. O que pensa que eu sou? — respondi irritado.
— Então anda logo.
— Tá bom.
Segui com o velho para fora da cidade, rumo à cabana perto do riacho.
— Red.
— Que foi?
— Aquele moleque está nos seguindo.
Olhei por cima do ombro.
De fato, a mesma criança vinha nos acompanhando desde a cidade, tropeçando, mas sem desistir.
— Que incômodo... bate nele e manda embora. — disse o velho, impaciente.
— ...Você é mesmo um demônio, hein.
— Só percebeu agora? Anda logo, afasta ele.
— Tch.
Aquilo me irritou, mas obedeci.
Aproximei-me da criança.
— Ei, você aí.
Antes de usar a força, tentei falar primeiro.
— Se continuar me seguindo, não vou ter pena.
Pela aparência, devia ter uns onze ou doze anos.
Achei que bastaria uma ameaça para fazê-lo fugir...
Mas ele não fugiu. Apenas abriu a boca.
— A... a-u... a-u...
O som que saiu não era fala era como o balbucio de um bebê.
— Então... você não sabe falar?
Se não podia falar, também não podia pedir ajuda quando apanhasse.
E provavelmente não tinha amigos.
Deve ter vivido sozinho, isolado, sofrendo em silêncio...
Exatamente como eu um dia.
— O que está fazendo, Red? — o velho se aproximou.
— Não vai bater? Ficou com pena?
— Não é isso.
— Então por que está parado aí, seu molenga?
Virei-me e encarei o velho.
— Essa criança... eu vou levar comigo.
— ...O quê?
Os olhos pequenos do velho se estreitaram, cheios de ameaça.
— Ficou louco? Esse moleque não serve pra nada! Não vai te ajudar na vingança!
— Eu sei. Mesmo assim, vou levá-la.
— Maldito...!
Ficamos nos encarando.
Eu sabia que ainda não tinha chance contra ele, mas... não recuei.
O velho suspirou, irritado.
— Tá bem, faça o que quiser. Mas já que foi você quem decidiu, é você quem vai cuidar dela.
— Tudo bem.
— Só pra constar... esse “moleque” não é moleque. É uma menina.
— ...O quê?
Olhei surpreso para a criança.
Ela não parecia uma garota, mas o velho não errava nesse tipo de coisa.
— Tch.
Aquilo ia ser um problema. Mas agora já era tarde pra voltar atrás.
— Ei. — chamei.
— Consegue entender o que eu digo? Então vem comigo.
O rosto da menina se iluminou.
Mesmo com o nariz ensanguentado e o rosto coberto de arranhões, parecia... sorrir.
— A... a-u... a-u...
Ela deu alguns passos trôpegos em minha direção e estendeu a mão como se pedisse ajuda.
— Tch.
O velho já estava longe.
Suspirei, segurei a pequena mão suja e áspera da garota...
e seguimos juntos pela estrada.
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